Preço do café dispara e especialistas explicam os motivos

O café ficou mais caro no último ano, e quem consome diariamente já percebeu a diferença no preço. Desde janeiro de 2024, o valor médio de um pacote de 250g subiu 126,78%, passando de R$ 7,73 para R$ 17,53. Mas por que isso aconteceu? Especialistas apontam que fatores como clima, custos de produção e mercado internacional estão por trás desse aumento.

Clima prejudica produção e reduz oferta

O Brasil é o maior produtor de café do mundo, mas as lavouras vêm sofrendo com mudanças climáticas. A seca e as altas temperaturas na fase de floração reduziram a produtividade, e uma oferta menor significa preços mais altos. Segundo a Embrapa, a safra nacional de 2025 deve ser 4,4% menor que a de 2024.

Além disso, o fenômeno da bienalidade negativa—característica natural do cafeeiro que alterna anos de alta e baixa produção—também contribui para uma colheita reduzida neste ciclo.

Para Elton Alves, gestor de cafeicultura do Sebrae/RN, o clima tem sido um dos maiores desafios do setor. “O Brasil sofreu com secas intensas e altas temperaturas na fase de floração, reduzindo a produtividade. Esse fator, somado ao aumento da demanda, pressiona os preços para cima”, explica.

Ele também alerta para as previsões climáticas dos próximos meses. “As chuvas recentes trouxeram algum alívio, mas a expectativa é de temperaturas acima da média, o que pode comprometer ainda mais a safra 2025/26”, afirma.

Mercado internacional e dólar influenciam os preços

O preço do café no Brasil também é afetado pelo mercado global. Em janeiro de 2025, o país exportou 3,97 milhões de sacas, uma leve queda de 1,6% em relação ao mesmo período do ano passado. No entanto, a receita das exportações aumentou 60%, já que os preços no exterior estão elevados devido à menor oferta global.

A desvalorização do real em relação ao dólar também pesa. Como o café é uma commodity negociada internacionalmente, um real mais fraco torna o produto mais caro para os brasileiros.

“Menos café foi exportado, mas por um valor muito maior”, destaca Alves. “Isso acontece porque a oferta está reduzida no mundo todo, o que eleva os preços internacionais. E, como o Brasil é um grande exportador, essa valorização também impacta os preços no mercado interno”, explica o especialista.


Além disso, a concorrência global tem influenciado a dinâmica do setor. “A exportação do café canéfora (robusta + conilon) caiu quase 29%, porque os grãos vietnamitas e indonésios estão mais competitivos em preço. Isso reduziu a oferta interna e elevou os preços”, complementa Alves.

Custos de produção também aumentaram

Outro fator que encarece o café para o consumidor final é o aumento dos custos de produção. “O preço da matéria-prima subiu 224% entre 2021 e 2024, e isso reflete no valor do produto nas prateleiras”, afirma Alves.

Entre os fatores que encareceram a produção, estão:
• Fertilizantes e defensivos agrícolas, impactados por crises geopolíticas e variação cambial;
• Combustíveis, que elevaram os custos de transporte e logística;
• Mão de obra e energia elétrica, cada vez mais caras no setor agrícola.

Consumo global em alta mantém preços elevados

Mesmo com os preços subindo, o consumo de café segue em alta no mundo inteiro. A China, por exemplo, aumentou seu consumo em quase 150% nos últimos anos e deve atingir 6,3 milhões de sacas em 2024/25. Nos Estados Unidos, o setor movimentou mais de US$ 28 bilhões em 2024 e pode chegar a US$ 33,64 bilhões até 2029.

No Brasil, o consumo interno cresceu 1,1% entre 2023 e 2024, totalizando 21,9 milhões de sacas. O faturamento da indústria chegou a R$ 36,82 bilhões, um aumento de 60,85% em relação ao ano anterior.

O que esperar dos preços nos próximos meses?

A tendência é que os valores continuem altos até maio, quando a colheita da nova safra de robusta e conilon começa. Caso a produção global aumente e os estoques sejam recompostos, os preços podem ter uma leve queda no segundo semestre. No entanto, se o clima continuar desfavorável, o cenário de preços elevados pode se prolongar.

Para Alves, o momento ainda exige cautela. “Se tivermos uma safra muito superior à demanda, os estoques podem se recompor e os preços baixarem. Mas essa é uma perspectiva de longo prazo. No curto prazo, o consumidor ainda sentirá o impacto no bolso”, finaliza.

Principais números do café em 2025
• Preço médio do pacote de 250g: R$ 17,53 (+126,78% em um ano)
• Exportações em janeiro: 3,97 milhões de sacas (-1,6% em relação a 2024)
• Receita das exportações: US$ 1,3 bilhão (+60%)
• Consumo interno: 21,9 milhões de sacas (+1,1%)
• Faturamento da indústria: R$ 36,82 bilhões (+60,85%)

Com um mercado aquecido e desafios climáticos pela frente, o café segue sendo um produto essencial, mas cada vez mais caro na mesa dos brasileiros.

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