As próximas safras de mel produzidas no Ceará, antes destinadas ao mercado internacional, deverão ser compradas pelo Governo do Estado para compor a merenda escolar da rede pública. A medida surge como resposta aos impactos do “tarifaço” imposto pelos Estados Unidos, principal destino das exportações do setor apícola cearense, que absorvia 95% da produção.
Segundo o presidente da Federação dos Apicultores do Estado do Ceará (Fecap), Joventino Neto, o preço a ser pago seguirá parâmetros da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Atualmente, o valor médio do mel em sachê é de R$ 61,50 o quilo, cerca de 3,8 vezes mais do que os R$ 16 pagos pelos importadores norte-americanos pelo mel in natura. Ainda assim, negociações podem levar a um ajuste, ficando entre R$ 40 e R$ 45 por quilo — mais que o dobro do valor de exportação.
O secretário-executivo da Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA), Marcos Jacinto, confirma que a aquisição está em construção e deverá ser formalizada por meio de licitação. Ele explica que o fornecimento envolverá mel já beneficiado e embalado em sachês, diretamente das indústrias para a rede estadual de ensino. A previsão inicial é incluir o alimento semanalmente na merenda escolar, o que representaria cerca de 16 mil toneladas por mês.
Impactos do tarifaço e nova estratégia
Com a sobretaxação aplicada pelos EUA desde 7 de agosto, o preço do quilo do mel exportado caiu de R$ 16 para R$ 14, chegando em alguns casos a R$ 12 — uma redução de até 25% no lucro dos produtores. O cenário levou apicultores a buscarem alternativas, incluindo mercados como o japonês, embora com preços mais baixos.
Para Joventino Neto, o direcionamento da produção para o mercado interno pode representar uma oportunidade:
“Se conseguirmos colocar mel pelo menos um dia na semana na merenda escolar, em um ano vamos absorver quase toda a produção do Ceará. Isso vai obrigar os atravessadores de exportação a pagar melhor para os pequenos apicultores”, afirma.

Produção apícola no Ceará
De acordo com dados do IBGE (2023), o Ceará é o quinto maior produtor de mel do Brasil, com pouco mais de 5,7 mil toneladas anuais. Desse total, 1,8 mil toneladas (31,8%) foram exportadas para os Estados Unidos, segundo dados do Comex Stat.
Antes mesmo do tarifaço, parte significativa da produção já era destinada ao mercado interno, com vendas à Conab a preços médios próximos de R$ 60/kg, bem acima do valor praticado nas exportações.
Medida emergencial
O Governo do Estado reforça que a compra do mel para a merenda escolar tem caráter emergencial e prazo limitado. O objetivo é apoiar o setor produtivo até que ocorra uma renegociação com os EUA ou abertura de novos mercados.
Um edital de credenciamento para aquisição de gêneros alimentícios, incluindo o mel, deverá ser lançado nos próximos dias.





