No coração do Seridó, no município de Ouro Branco (RN), a história do campo nordestino resiste ao tempo com solidez e elegância. É lá que se encontra a imponente casa-grande da Fazenda Timbaúba dos Gorgônios, um dos mais importantes patrimônios rurais do Rio Grande do Norte, símbolo da força produtiva e da organização familiar que marcaram a vida sertaneja no século XIX.
A origem da fazenda remonta a 1791, quando o governador da Paraíba, Jerônimo José de Melo e Castro, concedeu terras na região do riacho Timbaúba. No entanto, foi em 1856, sob a liderança de Gorgônio Paes de Bulhões, que a casa-grande começou a ser erguida — obra finalizada em 1862. As datas, gravadas na própria fachada do casarão, ainda hoje contam essa história.
Construída com materiais extraídos da própria propriedade — pedras, tijolos, telhas e madeira —, a casa se destaca pela arquitetura robusta e bem planejada. Possui planta retangular, cobertura em duas águas, sótão habitável e um alpendre com quatro arcadas na fachada principal. Internamente, são nove quartos, salas separadas para homens e mulheres, oratório, copa, cozinha, despensa e outros cômodos funcionais que abrigaram gerações da família Gorgônio.

A fazenda, que inicialmente se dedicava à pecuária, especialmente à criação de gado, cabras, ovelhas e porcos, expandiu suas atividades com a introdução do cultivo de algodão nas várzeas do Rio Barra Nova a partir de 1860. Posteriormente, surgiram pequenas indústrias no local, como um engenho de rapadura movido à tração animal e uma queijaria comandada por dona Ana Floripes, a “dona Nanu”, esposa de José Gorgônio da Nóbrega (Zuza), casal que foi responsável pelo auge da fazenda no século passado.
O casarão da Timbaúba é mais do que um abrigo físico; é um símbolo da resistência, da produção e da cultura sertaneja. Embora pouco tenha restado do mobiliário original — como os bancos de pau d’arco, baús forrados de couro e mesas de cumaru —, a estrutura permanece intacta, com sua fachada preservada e seu valor histórico reconhecido.

Em 24 de outubro de 1987, a casa-grande da Fazenda Timbaúba dos Gorgônios foi tombada como patrimônio estadual. Hoje, ela representa não apenas a memória de uma época de prosperidade agropecuária, mas também a essência do Seridó — forte, resistente e profundamente ligado à terra.





